sexta-feira, 24 de junho de 2011

Junho vai se esquivando. Na falta da guerra de espadas na minha cidade, uma procissão de guarda-chuva para São Pedro na Avenida Sete. Quando Jesus passar, eu estarei no meu lugar. Pessoas sorridentes tocando com dedos o filó azul, que era o mar delas. Em vez da guerra de espadas, a paz de copas. Eu acompanharei a procissão, com meu guarda-chuva azul e o meu vestido de cassa bordada, quadriculado verde, amarelo e branco, que mais parece uma toalha de mesa. E o vestido fica mesmo lindo com minha bolsa nova de palha, toda colorida horizontalmente.
E eu sou uma quadrilha, uma árvore de natal, a Rainha do Milho, uma alegria na passarela.

Ai, junho...como gosto de ti!
E não há imagem para isso tudo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

here

Há o bruxo magro, a coluna vertebral que come a cinza dos deuses. E a menina que depila os pelos e se pinta de mariposa cor-de-rosa. E um príncipe miudinho que sabe respirar por um narina só. As mosquinhas assistiram todo o filme e foram dormir nos seus travesseiros dentro dos mosquiteiros de nylon. Um pássaro aponta os pontos cardeais e já é inverno na cidade.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Guilherme

Ele tem cara de bom moço, ar aristocrático e um sorriso mais indecifrável que o da Mona Lisa.

Ele sabe o que é quiromancia, empirismo e páprica. Ele sabe cantar duas músicas do Roberto. Ele sabe mais da vida cotidiana dos Simpsons - e toda Springfield - que o Matt Groening. Ele dirige de um jeito esquisito, mas eu nunca comentei nada.
Guilherme é o melhor ex-namorado do mundo e meu maior caso de amor.
Ele é o meu domingão de sol. Segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado também.

sábado, 18 de junho de 2011


(hoje em dia os dicionaristas me emocionam mais do que os poetas.)


Num livro de gramática de mil novecentos e setenta e cinco, encontro dois papéis soltos: as letras de meu pai e de minha mãe, aprendendo as conjugações do verbo vir e amar e os tipos de pronomes em português e uma tentativa de saber se ansiedade é com “s” ou com “c”.

Na letra da minha mãe: eu amo, tu amas, ele ama. eu venho, tu vens, ele vem. Eles estavam aprendendo gramática. Não sei exatamente o porquê e, na verdade, acho que não quero saber, mas essas conjugações, como diria o Drummond, me emocionam como o diabo.



Como uma foto,
a vida,
sem saída, aqui,
se apaga a lua,
acaba e continua.

(Inferno - Arnaldo Antunes)



"Ali, suspiros, queixas e lamentos cruzavam-se pelo ar, na escuridão, fazendo-me hesitar por uns momentos.
Línguas estranhas, gírias em profusão, exclamações de dor, acentos de ira, gritos, rangidos e bater de mão."


(O Inferno - Dante Alighieri)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Antes eu tentava explicar, mas não conseguia. Então eu dizia simplesmente que gostava de umas historinhas sem pé nem cabeça. Filme, livro, o que viesse. Alguns acusavam, era tipo. Não é possível alguém gostar desse negócio. Meus amigos sempre foram compreensivos, porém cautelosos: se Tatá sugeriu, melhor checar antes, ela gosta de umas coisas esquisitas... Só depois descobri o nome daquilo que exerce tamanho fascínio sobre minha pessoa: o universo onírico. No dicionário "onírico" consta como adjetivo relacionado a sonhos. Esse universo refletido em qualquer forma de arte, dá aquela sensação que mistura sonho e realidade. Não se sabe o que é delírio, alucinação, o que é real. Quando a gente é criança esse é o nosso mundo. Melhor dos mundos. Daí a gente vai crescendo e sapato é só sapato mesmo, travesseiro é aquilo em que a gente apoia a cabeça pra dormir (ou ter insônia), e ai! daquele que ousar inventar ou subverter a palavra. Se não tiver licença poética ou for um Rubem Braga consagrado, é taxado de bobo. Meu vício começou com uma série do David Lynch, que passou (e não terminou) na Globo chamada Twin Peaks. A trama girava em torno do assassinato de uma garota tipo team leader, na pacata e fictícia Twin Peaks. Poderia ser a trama de qualquer filme ordinário, mas aquele era original porque tinham as cortinas de veludo vermelho, o anão que dançava de um jeito bizarro, uma trilha sonora meio new age, tudo tão pertubador e fora do lugar. Pra quem odeia narrativas sem linearidade ou lógica, esse universo de sonhos é um pesadelo. Pra quem se sente atraído e não deixou fechar todos os chacras, recomendo.


domingo, 5 de junho de 2011

Outro dia senti frio. Frio na alma. Parece que faz pouco tempo, senti o outono se acentuando nas coisas, nas pessoas, no mar de Salvador que de azul se torna cinza. Aquele frio de quem sente o inverno chegando depressa, sabe? Mas não te preocupa - suedehead, diria Morrissey - o que acontece é sempre muito natural.

Hoje, sinto o outono dourado de folhas caídas na Praça do Campo Grande. I am happy now. Tô morando, trabalhando, estudando, amando. Vivendo plenamente estes, que são os quatro foles que sustentam a vida. Tá tudo sendo tão legal, um legal merecido, de pernas e costas doendo, mas coração tranquilo.

Com essa maré a favor, tenho mantido a escrita de lado. Penso que não devo deixar isso paralisar o que eu mais gosto de fazer. De qualquer forma, tenho fotografado. Tenho nutrido uma paixão imensa pelo cotidiano. Pelo rotineiro. Tenho estudado sobre cores e flores, ervas mágicas e macrobiótica. Talvez essa seja minha forma de acalmar essa vontade de ir embora que, vezenquando, tenta me sugar pra baixo. Mês que vem estarei de férias, e com a viagem marcada pra Curitiba. Queria muito ir ao Rio te visitar, te fotografar - agora com novas perspectivas - mas você sabe que tenho planos (muitos) e todos, como tudo na vida, envolvem dinheiro. De qualquer forma, sinto saudades daqueles tempos em que inventávamos milhões de significados pro que é a felicidade. Hoje, mais do que nunca tenho visto a felicidade todos os dias pela janela do ônibus ou pela varanda do meu quarto. Te contei que ganhei um quarto com varanda? Aproveito o espaço pra cultivar plantas que ganho dos amigos. A primeira a me presentear foi Dani, que me deu um vazinho verde com magnólias rosas. Isso foi tão lindo que, outro dia, sonhei que estávamos debaixo de uma árvore corregada de magnólias cor-de-rosa. As vezes, a árvore se confundia com um Ipê branco, coisas que só Freud explica.

Queria sonhar com amorinhas. Mas ando tão cansada que sonho pouco. E já que não sonho enquanto durmo, aproveito pra sonhar nas minhas idas ao trabalho ou nos domingos que tiro pra fotografar no parque.

Fiz um sorvete de chocolate e lembrei de você. Senti essa necessidade de escrever. É que, às vezes, sinto uma falta aguda de você, amorinha.

Fique com um beijo meu.


"Eu me sinto superfeliz quando encontro uma pessoa tão confusa quanto eu."